sábado, 15 de outubro de 2011

Soldado Desconhecido



A ideia do tema me veio ao ver a presidente do Brasil chegando ao país dos seus antepassados, a Bulgária. Sua atividade inicial programada pelo cerimonial, como não poderia deixar de ser em qualquer cerimonial que se preze, foi a de depositar flores no túmulo do soldado desconhecido.
Desculpem-me a ignorância, ou se gentilmente preferirem, a falha busca que fiz, pois não encontrei eventuais raízes históricas para o hábito de assim se proceder quando um país recebe visitante ilustre.
Quem é este tal de Soldado Desconhecido? Ele está em todas! Do que terá ele falecido? Claro, são vários os soldados desconhecidos, de inúmeras nacionalidades. Cada um morreu de uma forma. Se há tantos países com seus respectivos túmulos de desconhecidos, seria esperar demais que tivessem todos morrido da mesma maneira. É incontestável, portanto, que a maioria dos países possui soldados desconhecidos, caso contrário não se colocaria a cerimônia de abertura de visita a seus túmulos. A não ser que com tanta tradição, com tanta importância que se dá ao evento de visitá-los, construíram-se túmulos e lá estão enterrados soldados indigentes sem nome, ou mesmo, sem ninguém lá dentro.
Brincadeiras à parte, uma coisa fica evidente. Todos estes países e povos que têm tais túmulos com tais soldados, heróis desconhecidos, devem ter tido muitas guerras importantes. Fratricidas. Mataram muitos inimigos e, também, morreram pelos seus países. Se assim não fosse, não haveria tais túmulos. E estas guerras devem ter sido fatos, talvez, os mais relevantes destes povos, pois se assim não fosse, não seriam seus túmulos o primeiro local colocado pelos cerimoniais diplomáticos para serem visitados. Tais túmulos têm o grande mérito de provar que o ser (des)humano é um guerreiro por natureza.
Será que os países não teriam nada mais importante para apresentar como cartão de visita ao ilustre visitante? Mesmo que fossem túmulos, com ou sem defuntos dentro. Chegar aos USA e visitar o túmulo do conhecido pacificador Martin Luther King; aterrissar na França e visitar o túmulo do famoso Napoleão Bonaparte para mostrar como acabam conquistadores ambiciosos; ou em países “dirigidos” por ditadores sanguinários quase perpétuos, mostrar o túmulo de suas vítimas; ou aportar na Índia e visitar o túmulo do Mahatma Gandhi; ou, em Londres ir ao túmulo de Sir Alexander Fleming o descobridor da penicilina que impediu a existência de muitos defuntos conhecidos ou desconhecidos; ou o de Madre Tereza de Calcutá; ou o túmulo daquele desconhecido que ao morrer doou alguns órgãos que salvaram vidas; ou ainda, para os mais atuais visitantes, procurarem a cova de Steve Jobs.
E aqui no Brasil? Somos um povo que tem a fama de ser pacífico. Como se faz, então, para não ficar por baixo e ter um túmulo decente de soldado desconhecido para ser florido pelo visitante ilustre? Claro, somos também o povo criativo e do jeitinho, então, claro, temos o nosso túmulo-cartão de visita. Não nos esqueçamos dos valorosos pracinhas da nossa campanha da Itália na segunda guerra mundial. Não temos muito mais a apresentar. Tiradentes, talvez. Mas, já que somos criativos poderíamos ter os túmulos de vários heróis, não tão soldados, nem tão desconhecidos. Há tantos que morreram por balas perdidas em batalha sem nome; outros sequestrados devolvidos defuntos e com parentes que pagaram resgates e ficaram sem um níquel para que fossem sepultados em túmulos dignos; motoristas respeitadores das leis de trânsito que dentro das trincheiras de seus automóveis receberam disparos alcoólicos provenientes de outra arma letal dirigida e apontada por soldado até muito conhecido que chegou a ser eleito deputado; outros ainda que perderam a batalha vitimas de pedradas. De crack.
Como se vê, apesar de sermos este povo pacífico, matéria prima não nos faltaria para construir um túmulo superfaturado para nossos soldados e guerreiros desconhecidos.  
Téo