sexta-feira, 20 de novembro de 2015

BATACLÃ OU BATACLAN



Até a última quinta-feira o nome BATACLÃ trazia à luz da minha memória apenas recordações suaves, alegres, felizes, prazerosas. Momentos de minha vivência ligados à arte, à cultura, ao entretenimento de qualidade, ao cotidiano saudável, ao amor essencial, enfim, à VIDA, em seu sentido mais literal.
BATACLÃ me conduzia, até há cinco dias, às histórias de Jorge Amado, às peraltices, à sensualidade de seu personagem Gabriela Cravo e Canela, seus amores, em meio aos que frequentavam o BATACLÃ, lugar preferido de personagens que iam ao encontro das "primas", chefiadas por Maria Machadão, a anfitriã. Lá vendiam sua matéria prima em corpos esculturais. Jorge Amado inspirou-se, para denominar a casa das pupilas da Machadão em uma casa de espetáculos de Paris, a qual existe há 151 anos. O BATACLAN.    
O inspirador BATACLAN parisiense provocou uma enorme mudança no depósito de minha recordações, e mesmo na casa de espetáculos francesa. Relato aqui apenas o que se alterou nas marcas das minhas memórias. 
BATACLÃ ou BATACLAN hoje substituíram em mim as lembranças do poético, da doçura, do artístico, da emoção da expressão saudável da vida, do corpo moleque de uma mulher linda, da pena rica de um poeta baiano imortal. Nas vagas abertas entraram o obscurantismo, a violência, o sangue de inocentes, a mediocridade, a banalização da vida humana, preceitos deteriorados de religiões verdadeiras de quaisquer que sejam seus deuses e que colocam o amor e a fraternidade como condutas e sentimentos essenciais.
Para aonde estamos caminhando ou para aonde estão tentando nos levar? Qual planeta, ou outro astro qualquer, estes agentes anti-paz querem criar, já que conviver com diferenças não faz parte de suas mentes doentias?
A ciência  avançada deste seculo 21, a qual os anti-paz também colocam furiosamente na sua lista negra, ainda não conseguiu comprovar a existência de outros locais no Universo, apesar de expoentes da paz nos terem revelado haver muitas moradas, nas quais, certamente, tais medíocres, de mal com a Vida, não terão espaço.  
Conclui-se, assim, que o obscurantismo pretende estabelecer-se com seu ódio neste planetinha querido, tão maltratado, tão desprezado pelos se dizem habitantes pacíficos dele, mas que é um presente recebido de belezas imensas no qual não há espaço para estes demolidores de vidas.
Ambas as experiências de vida, seja no BATACLÃ baiano, seja no centenário BATACLAN parisiense com seus shows e agora suas vítimas do horror, aí estão como um marco de luz que inspirará os que defendem a legalidade, a fraternidade, a igualdade e o amor.     
Téo, novembro 2015

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Pátria-mãe gentil

PÁTRIA-MÃE GENTIL

Nestes meus setenta e cinco anos de vida presenciei as mais diferentes crises brasileiras, desde as mais graves até as triviais. Ao lado delas trilhei diferentes caminhos que compuseram minha existência. 
Família, escola, superação de doença, universidades, empregos diversos, constituição da própria família, atentados políticos, suicídios, arremedos de democracia, ditaduras, democracia verdadeira, mil réis, cruzeiros velho e novo, real, etc.
Paralelamente a todos estes panos de fundo ví sempre um país que crescia, apesar dos pesares e dos seus "dirigentes". Apesar dos seus políticos. Crescia movido por um povo que sempre conseguia "dar a volta por cima" e produzir.
Pairava sempre no ar o rótulo de país formado por uma população ordeira, simples, valente, que sofria sorrindo, hospitaleira, a qual bastava ter futebol e carnaval para estar bem. E era (e é verdade, mesmo com o futebol capenga também). Foi sempre a imagem com que sempre se projetou internacionalmente. 
No entanto, por baixo deste perfil desenvolvia-se, silenciosamente, um tumor a partir de células malignas, criadas ou trazidas desde os seus primeiros descobridores.
Alguma delas já identificadas pelos nomes das doenças que gerariam, como, seaproveitaroma, desrespeitoma, levarvantagite, malandrite, subornoma, blefarite, corrupcionite, politicalhite e outras.
Tais células sempre se desenvolveram anestesiadas pelo rótulo do "povo bom".
Até que chegamos ao cenário atual.
Seríamos o mesmo povo alegre, o mesmo país? Sim. Somos. Um dia um bisturi conseguiu romper uma aparente pequena célula maligna.
E o câncer está purgando. Há mais de quinhentos anos a purgar.
O povo feliz que já vira de tudo, agora convive com máscaras protetoras para suportar e manter o habitual otimismo, pois está sendo extravasado desrespeito, mentira, engodo, egoísmo, falsidade descarada,, lei do mais forte, interesses pessoais e partidários, olhares no próprio umbigo, desprezo por aqueles cuja missão seria protegê-los, furtos, roubos, corrupção, etc.
Não há mais necessidade de se ver, ler ou ouvir notícias. São repetitivas, cansativas, diárias, bandidos de colarinho branco ou de outras colorações se misturando com maus policiais num mosto único e mal cheiroso.
Âncoras, apresentadores, comentaristas não conseguem esconder sua indignação e enfado. Há a enaltecer que a ruptura da primeira célula tumoral teve as mãos do jornalismo investigativo.
Assim, temos que assistir a todos os horrores diários. Me ensinaram sempre a não me alienar dos fatos se quiser ver um país melhor.
Faço uma perguntinha final.
Com toda a impunidade ainda vigente, será que se a justiça funcionasse integra e integralmente, teríamos onde enfiar todos os autores dos crimes informados ou comprovados a toda hora? Temos estrutura para investigar e deter todos e tudo o que tem ocorrido?
Este é o país das maravilhas, povo afável, que nunca teve guerras, mas onde se mata mais nas ruas, no trânsito e nas drogas do que as mais sangrentas guerras "oficiais".
Para onde estamos indo? Quem sabe?
O sábio Renato Russo viveu perguntando "quê país é esse?
Ouso responder.
É a nossa pátria mãe gentil.