Um drama Royal
Foi tamanha a repercussão popular, intempestiva, provocada pela
questão de eventuais maltratos recebidos por animais de laboratório do
Instituto Royal, provenientes pelos defensores legítimos do respeito aos
animais, porém mal informados, que muitos poderão se surpreender com o que aqui
comento.
Como sabe a maioria dos meus amigos, AMO A NATUREZA, AMO OS ANIMAIS DE
UM MODO GERAL e, principalmente, amo os CÃES, dos quais tenho dois, Nankim e
Vida, que fazem parte da minha família. Eu não conseguiria mais viver sem eles.
Por outro lado, por 35 anos dediquei minha vida à pesquisa científica,
SÉRIA, seja na USP, seja nas principais empresas internacionais que desenvolvem
novas substâncias de uso terapêutico nos medicamentos. Sempre trabalhei,
participei e estudei muito sobre os trabalhos científicos que acabaram gerando
novos medicamentos, os quais, certamente, todos nós já os utilizamos ao menos
uma vez na vida, e que continuam salvando vidas muitas dentre as quais as de familiares
e amigos queridos.
Para que tais estudos sejam levados adiante, infelizmente, ainda a participação
de certos animais é indispensável numa primeira fase dos estudos, já que a
segunda fase é executada em humanos, experimentalmente também. Os animais,
portanto, fornecem uma espécie de sinal verde de segurança para que possam ser testados
em experimentos nos assim ditos “humanos”. As principais espécies animais que
participam de tais estudos, alguns até doando suas vidas (como o fazem, por
exemplo, as do gado bovino, que servem ao nosso consumo alimentar) são os
camundongos, hamsters, macacos,
coelhos e cães, e destes últimos, os principais são os da raça Beagle, pelo seu
porte menor, natureza dócil e similitude com a fisiologia humana,
proporcionando facilidade no manuseio e avaliação.
Aquele que não deseja, pelos mais variados e respeitáveis motivos,
comer carne bovina, simplesmente, pode deixar de fazê-lo, pois existem
alternativas ao consumo. Se deixássemos de usar os animais citados nos testes
experimentais de laboratório (infelizmente, ainda não existem alternativas a
eles), ficaríamos privados de todas as categorias de medicamentos
indispensáveis à maioria das mais diferentes indicações, ao menos da
terapêutica clássica medicamentosa, que exige comprovação de eficácia por
metodologia científica. A terapêutica alternativa, que nos merece todo o
respeito, utiliza-se de outras metodologias e tem uso significativo por também
demonstrarem em muitos casos sua eficácia. Mesmo as medicações fitoterápicas,
caracterizadas pelo emprego de princípios ativos provenientes de vegetais, e
que o leigo, equivocadamente muitas vezes as consideram como sinônimos de segurança
total, inofensivos, exigem testes experimentais executados naquelas mesmas já
citadas espécies animais.
O episódio do Instituto
Royal deve ser encarado sem precipitação.
Nas mais diferentes
atividades humanas podem, infelizmente, existir as popularmente chamadas “espeluncas”,
como por exemplo, pet shops, clínicas bariátricas, clínicas de reprodução
assistida, de emagrecimento, produção de medicamentos de categoria duvidosa,
etc. Em absoluto, não estou afirmando que a Instituto Royal seja uma delas.
Longe disso. Não tenho dados concretos para fazê-lo. Pelo que pude saber tem
bom conceito no âmbito científico. Equívocos e falhas ocorrem em qualquer área,
não significando que haja dolo.
Por exemplo, nos centros
mais adiantados, na Europa, nos Estados Unidos, e também nas boas universidades
brasileiras, os animais de pesquisa dispõem de suas próprias áreas, em
biotérios com excelência, formam até departamentos especiais com profissionais
treinados, e a pesquisa das empresas farmacêuticas ou de outras que dela
necessitam (a NASA, por exemplo,) é realizada em conjunto com as universidades.
Nos USA onde a presença de Beagles ainda é fortemente percebida em trabalhos de pesquisa publicados,
o número de testes realizados a cada ano em cães caiu em dois terços, de 195.157
para 64 932 no período 1972-2004 (United
States Department of Agriculture: Animal and Plant Health Inspection Service
(2004). No Japão as leis sobre as experiências em animais não obrigam a informação sobre os
tipos ou número de animais utilizados, e
na França, pela proporção de inspetores em relação às instalações de testes, o
ambiente regulatório é de absoluta confiança (Wikipédia).
Assim, antes que radicais
exponham, sem qualquer noção de conhecimento, as suas revoltas e idiossincrasias,
deveriam melhor informar-se sobre os temas alvo de sua revolta. Será que o gado
bovino ou ovino, da mesma forma, não mereceria uma investida de protesto contra
a sua matança desenfreada? Já tivemos conhecimento de algo assim no Brasil?
Sem qualquer condenação ao
Instituto Royal, caso lá tenham ocorrido episódios de desrespeito aos animais,
por baixa qualidade de sua atuação, condená-lo da forma que o tem sido, não
seria semelhante a que se depreciasse toda a justiça das manifestações populares
legítimas que temos visto no Brasil, atendo-se apenas a julga-las a partir das
ações dos Blacks Blocs?
Téo – Outubro 2013