sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Falamos. Mas será que entendemos?


Artigo sobre Acessibilidade publicado na Edição 303 de 11/01/2013 do Jornal Canal Aberto - Ilhabela

As palavras Acesso e Acessível possuem a mesma raiz e estão integradas ao nosso vernáculo. 
Acessibilidade é um dos termos derivados, de mesma raiz. Sua utilização tem aumentado a partir de tempos recentes. Provavelmente, o maior responsável por este acréscimo na utilização seja a sua correlação com garantias de direitos humanos, inclusive aos de certas minorias.
A OMS, Organização Mundial de Saúde, com o objetivo de garantir a inclusão das pessoas com deficiência, têm incrementado a edição de resoluções, regulamentos, relatórios que visam incentivar esta inclusão, razão pela qual Acessibilidade ganhou destaque. 
O Brasil fez sua parte, publicando instrumentos legais específicos para garantir estes direitos.
A OMS estima que cerca de 10% da população mundial possui algum tipo de deficiência. Apesar de tudo, o real entendimento do que é Acessibilidade ainda fica muito aquém do desejável. Além disso, como o termo vincula-se muito às limitações físicas, a possibilidade da sua real compreensão e aplicação é prejudicada por impregnar-se de variadas formas de preconceitos.
Há poucos dias relatei num site de relacionamento uma “aventura” que vivi em consequência de uma dificuldade de acesso num serviço de transporte público. Ficou gravado em minha mente o comentário de alguém: “Téo só mesmo quem sente na pele a limitação pode entender o que você viveu”. Verdadeiro.
Há na população leiga, e mesmo naqueles que teriam a obrigação de conhecer, uma total desinformação da abrangência da Acessibilidade. A grande maioria relaciona o termo apenas à necessidade de se rebaixar calçadas públicas, a ausência de buracos nos passeios públicos e coisas afins.
Acessibilidade é muito mais.
Dar acessibilidade é abrir portas de emprego, é possibilitar o lazer, é permitir o turismo, é incrementar a prática esportiva, é tornar a vida de mobilidade das pessoas independente da caridade ou da boa vontade de outras (se bem que tais gestos são essenciais à vida).
Acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para a utilização de edificações, espaços, mobiliário, equipamento urbano, transportes e elementos, permitindo a todos os usuários, particularmente a pessoa deficiente ou com mobilidade reduzida, o acesso com igualdade, autonomia e segurança, inclusive dos locais e equipamentos turísticos.  
Possuo muito mais tempo de convivência com minha limitação física (eu a adquiri aos dois anos de idade) do que propriamente a somatória dos tempos dos estudos básicos aos de formação acadêmica nas duas carreiras universitárias que abracei e concluí, e ainda aos de vinculação com, talvez, as mais importantes empresas farmacêuticas internacionais e nacionais.
Na formação da experiência com a deficiência não existem cursos específicos. A escola que mais nos recomenda é a própria vida e a aceitação da limitação. Esta escola e esta aceitação nos permitiram batalhar por melhores condições de Acessibilidade e a consequente integração social da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.
Existe uma expressão que talvez seja o maior dos venenos para sufocar qualquer ampliação do exercício da cidadania na inclusão. O termo já foi até tema de famoso quadro humorístico: “ô Coitado”! 
Dar condições de Acessibilidade à pessoa com deficiência física é obrigatório. Não só porque há leis que regulamentam o “planejamento e a urbanização das vias públicas, dos parques e dos demais espaços de uso público, os quais deverão ser concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”, mas esta obrigação deve vir muito mais do exercício da cidadania.
Nossa Ilhabela começou recentemente a despertar para a adequação da cidade, fruto de uma melhor ação do poder público. Porém, a sociedade, como um todo, precisa despertar para a importância da sua participação na inclusão. Há muito a fazer, seja pelo poder público seja pelo cidadão comum. Começando pelo correto entendimento do que é acessibilidade.
Eu poderia citar centenas de exemplos reais comigo ocorridos nestes anos todos de convivência com a limitação. Falar sobre todos poderia ser cansativo. Em outra ocasião vou falar de alguns, os mais marcantes. Ass.Téo’’’ Uberreich - Consultor em Acessibilidade, portador de deficiência física e Farmacêutico-Bioquímico.