Artigo sobre Acessibilidade publicado na Edição 303 de 11/01/2013 do Jornal Canal Aberto - Ilhabela
As palavras Acesso e
Acessível possuem a mesma raiz e estão integradas ao nosso vernáculo.
Acessibilidade é um
dos termos derivados, de mesma raiz. Sua utilização tem aumentado a partir de
tempos recentes. Provavelmente, o maior responsável por este acréscimo na
utilização seja a sua correlação com garantias de direitos humanos, inclusive
aos de certas minorias.
A OMS, Organização
Mundial de Saúde, com o objetivo de garantir a inclusão das pessoas com
deficiência, têm incrementado a edição de resoluções, regulamentos, relatórios
que visam incentivar esta inclusão, razão pela qual Acessibilidade ganhou
destaque.
O Brasil fez sua
parte, publicando instrumentos legais específicos para garantir estes direitos.
A OMS estima que
cerca de 10% da população mundial possui algum tipo de deficiência. Apesar de
tudo, o real entendimento do que é Acessibilidade ainda fica muito aquém do
desejável. Além disso, como o termo vincula-se muito às limitações físicas, a
possibilidade da sua real compreensão e aplicação é prejudicada por
impregnar-se de variadas formas de preconceitos.
Há poucos dias
relatei num site de relacionamento uma “aventura” que vivi em consequência de
uma dificuldade de acesso num serviço de transporte público. Ficou gravado em
minha mente o comentário de alguém: “Téo só mesmo quem sente na pele a
limitação pode entender o que você viveu”. Verdadeiro.
Há na população
leiga, e mesmo naqueles que teriam a obrigação de conhecer, uma total
desinformação da abrangência da Acessibilidade. A grande maioria relaciona o
termo apenas à necessidade de se rebaixar calçadas públicas, a ausência de
buracos nos passeios públicos e coisas afins.
Acessibilidade é
muito mais.
Dar acessibilidade é
abrir portas de emprego, é possibilitar o lazer, é permitir o turismo, é
incrementar a prática esportiva, é tornar a vida de mobilidade das pessoas
independente da caridade ou da boa vontade de outras (se bem que tais gestos
são essenciais à vida).
Acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para a utilização de edificações,
espaços, mobiliário, equipamento urbano, transportes e elementos, permitindo a
todos os usuários, particularmente a pessoa deficiente ou com mobilidade
reduzida, o acesso com igualdade, autonomia e segurança, inclusive dos locais e
equipamentos turísticos.
Possuo muito mais
tempo de convivência com minha limitação física (eu a adquiri aos dois anos de
idade) do que propriamente a somatória dos tempos dos estudos básicos aos de
formação acadêmica nas duas carreiras universitárias que abracei e concluí, e
ainda aos de vinculação com, talvez, as mais importantes empresas farmacêuticas
internacionais e nacionais.
Na formação da
experiência com a deficiência não existem cursos específicos. A escola que mais
nos recomenda é a própria vida e a aceitação da limitação. Esta escola e esta
aceitação nos permitiram batalhar por melhores condições de Acessibilidade e a
consequente integração social da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.
Existe uma expressão
que talvez seja o maior dos venenos para sufocar qualquer ampliação do
exercício da cidadania na inclusão. O termo já foi até tema de famoso quadro
humorístico: “ô Coitado”!
Dar
condições de Acessibilidade à pessoa com deficiência física é obrigatório.
Não
só porque há leis que regulamentam o “planejamento e a urbanização das vias públicas, dos
parques e dos demais espaços de uso público, os quais deverão ser concebidos e
executados de forma a torná-los acessíveis para as pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida”, mas esta obrigação deve vir muito mais
do exercício da cidadania.
Nossa Ilhabela começou recentemente a despertar para a adequação
da cidade, fruto de uma melhor ação do poder público. Porém, a sociedade, como
um todo, precisa despertar para a importância da sua participação na inclusão.
Há muito a fazer, seja pelo poder público seja pelo cidadão comum. Começando
pelo correto entendimento do que é acessibilidade.
Eu poderia citar centenas de exemplos reais comigo ocorridos
nestes anos todos de convivência com a limitação. Falar sobre todos poderia ser
cansativo. Em outra ocasião vou falar de alguns, os mais marcantes. Ass.Téo’’’
Uberreich - Consultor em Acessibilidade, portador de deficiência física e
Farmacêutico-Bioquímico.