quinta-feira, 3 de maio de 2018

UMA VIDA


Estamos vivendo as emoções angustiantes de um incêndio em um edifício situado em área longinquamente nobre de São Paulo,
Vários tipos de rescaldo puderam ser percebidos entre os escombros fumegantes. O verdadeiro deles é, obviamente, aquele que está sendo executado pelo trabalho heróico  dos bombeiros em tudo o que o fogo devorador lançou abaixo. Vinte e tantos andares de alguma coisa que muitos teimam em chamar de edifício ruíram. Mas, com todo o respeito, este é o trabalho deles e de cuja eficiência não nos cansamos de enaltecer.

(fotos Veja e Folha de São Paulo respectivamente)

Pululam no ocorrido outros rescaldos de espécies sobejamente conhecidas que, porém, teimam em ficar fumegando eternamente neste Brasil.. Situam-se neste tipo de teimosia, o deficit de moradias, a pobreza crônica de um país que classifica direitos humanos por classe sócio-econômica, o desrespeito ao acervo cultural das cidades, a falta de cultura, a falta de fiscalização, a especulação imobiliária, o descaso. 
No entanto, em meio ao fumacê surgiu, em destaque, algo virtuoso. O valor de uma vida.
A cena ficará na história de um incêndio e de uma cidade. Uma corda sustentava a vida de um ser humano que se percebia liberto das labaredas que o devorariam. Apesar da fumaça e do calor, já respirava os ares da liberdade que o conduziria a outro tipo de luta, a da sobrevivência de um sem teto. A poucos metros dele um herói o observava, quase como um artista ao apreciar sua obra. Faltavam apenas algumas pinceladas para a conclusão de sua obra. O personagem do quadro já tinha até nome. Ricardo.
No entanto, a labareda do descaso de quem deveria cuidar, mostrou suas garras. E aquela vida e aquele prédio ruíram nas estruturas desgastadas pelo tempo sem manutenção. 
A luta para manter aquela vida colocou em evidência o seu contraste com as chamas devoradoras que diariamente vemos serem criadas no estopim que torna sem nenhum  valor a vida humana, e sempre desatam os nós que fragilmente seguram vidas preciosas.    Téo - 03/0/18