sexta-feira, 21 de março de 2014

Copa no Brasil - Alegria e Medo



 Copa no Brasil - Alegria e Medo



Aqueles que me conhecem sabem que sou aquilo que os politicamente coretos, e os idem incorretos, chamam idoso, da terceira idade, da melhor idade, coroa, velho, véio, no bico do corvo, etc.
Qualquer que seja a adjetivação, tenho a certeza de que um famoso médico alemão ainda não quis ser meu amigo. Não preciso dele.Ninguém precisa.
Falando apenas em memória futebolística, a minha alcança, com nitidez, a chamada "fatídica" Copa do Mundo de 1950, no então enorme Maracanã para 200 mil pessoas. 
Não quero me deter em análises de resultados, atuações, escalação de times, quem foi e quem não foi campeão.  
Vou me ater ao garoto dos 9 anos de idade que eu tinha na época  (chi!!!, entreguei minha idade), e que foi crescendo, felizmente com a memoria livre do incômodo do germânico Dr.Alz, e ainda hoje com lembranças claras de todas as subsequentes Copas, com seus países - sede, escalação das seleções, países que compunham as chaves, placares, fatos marcantes, artilheiros, gols de placa, juízes honestos ou suspeitos, etc. etc.
Nos meses que antecederam a Copa de 50, o coração deste garoto de então, batia descompassadamente, uma mistura de alegria e ansiedade. Não via a hora dela chegar.
Como o meu, milhões de corações continuaram a bater com ansiedade, não vendo o momento de cada Copa do Mundo de Futebol começar. Milhares destes coraçõezinhos brasileiros vieram a se tornar titulares de seleções brasileiras, estimulando outros garotos a aguardarem com ansiedade, cada quatro anos, pelo início de uma nova Copa.
Esta é uma história que para mim começou ainda nos tempos em que o veículo de comunicação único para nós era a mídia impressa, jornais e revistas. Seguiram-se transmissões com o som tremido via rádio (e que eternizou narradores como Ary Barroso, Pedro Luiz, Geraldo José de Almeida, Fiori Gigliotti e muitos outros), ou por tapes resumidos de cada jogo, que chegavam ao Brasil dois a três dias após cada jogo, depois a incipiente TV em branco e preto, seguida da TV em cores, de qualidade menor, até chegar à excelência técnica dos dias atuais.
Nesta sequência, o futebol do Brasil passou a ser matéria prima de primeiríssima expressão, exportado ao cenário internacional.
O Brasil ficou sendo conhecido, com toda a justiça, como o país do futebol, expressão nada irônica como querem alguns. Em consequência, surgiram inúmeros talentos nas artes por exemplo, que se alimentaram do jogo introduzido por Charles Miller, tais como Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Ruy Castro e sua Estrela Solitária com o relato da vida de outro gênio do futebol brasileiro. Mané Garrincha, além dos também insuperados gênios do próprio futebol Pelé, Gérson, Tostão, Rivelino, Leônidas da Silva - criador da "bicicleta" deste esporte - Ademir da Guia, o Divino, Zico e o recente garotinho Neymar.Há muitos outros.

Chegamos, assim, ao Brasil de hoje, que conquistou o direito e o privilégio de sediar a Copa do Mundo de Futebol - o esporte que mais adeptos possui no mundo - e, dentre outras coisas, apagar o trauma de triste memória do dito "fatídico" Maracanâ de 16 de julho de 1950, mas de glória do vizinho Uruguai.
Mas, a Copa do Brasil se aproxima e encontra o coração dos brasileiros (inclusive dos novos garotos que tanto ansiavam por este momento) apertado, entre a Alegria e o Medo, principalmente medo, arrisco dizer.       
Sem dúvida, vivemos tempos de preocupação e medo com os destinos do país, com a incapacidade administrativa de dirigentes, com corruptos que dão destinação duvidosa ou escusa à verbas destinadas para áreas essenciais, com bandidos à solta pelas ruas.
Porém, a título de alertar para todos estes fatos, não temos o direito de destruir o muito que o Brasil construiu a duras penas, não só no futebol, mas em muitos outros campos, da ciência, da tecnologia, da agricultura, mesmo nos esportes, na ciência médica (que não precisa de profissionais alienígenas), etc.
Não temos o direito de matar o sonho dos corações de novos garotos e garotas de tenra idade. Matando a Copa que se aproxima, alem destes crimes, estaremos cometendo outro, muito grave, o da credibilidade em nossa gente, o que causaria prejuízos certamente muito maiores do que as verbas absurdas gastas no estádios onde se disputará a Copa. Alem do mais, diariamente, constatamos atitudes de lesa-país daqueles que têm a obrigação de dirigir nossos destinos como nação, como a "construção" de inúmeras obras supervalorizadas, muitas inacabadas, rodovias que levam nada à nada, hospitais novos e prontos para uso que, no entanto, jamais receberam um único paciente e, muito menos, um profissional de saúde. 
Para casos como esses, nossos manifestantes black blocs, ou mesmo os legítimos e lícitos, pouquíssimo saíram às ruas em protestos.Teríamos que permanecer 24 horas nas ruas em protesto contra esta guerra instalada e desmentida pelas "autoridades", fonte de todo o Medo que reside nos nossos corações.
Deixem a Copa do Mundo do Brasil rolar.


Ao menos não mataremos tudo em que o Brasil se destaca positivamente aos olhos do mundo, e nem, principalmente, sufocando os sonhos de nossos garotos e garotas.  
Téo 03/2014