sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Supremo e estranho paradoxo



Com toda a tranquilidade afirmo que há, com muita razão, um clima de euforia generalizada entre nós, brasileiros, ao vermos (e assistirmos) às sessões do Supremo Tribunal de Justiça para julgar os réus daquilo que se convencionou, apropriadamente, chamar de Mensalão
Justifica-se pois, finalmente, colarinhos-brancos dos lesa-Brasil, sentam-se no banco dos réus (não em outros Bancos a que estamos mais habituados a vê-los...).
Com todos os normais argumentos contraditórios chegaram os juízes do Supremo a imputar condenações a diversos réus, porém, ainda com as doses das penas pendentes de fixação. Isto não é relevante para este comentário, pois certamente elas virão.
Já neste ponto do julgamento em andamento ouvem-se   os clamores dos que se dizem injustiçados, e que, sintomaticamente, são provenientes daqueles tidos como as figuras centrais do processo, agora incluídos no rol dos condenados.
Por que digo "estranho paradoxo"? 
José Dirceu e José Genoíno, dois dos condenados, dizem que não se reconheceu neles o que fizeram pela restauração da democracia brasileira nos períodos que precederam e durante o golpe de 1964. Com algumas restrições, talvez se poderia mesmo conceder a eles algum mérito nisto, inclusive, com a boa companhia do ex-presidente Lula. Acrescentam ainda, "os injustiçados", expressões tais como "seja lá o que tenha acontecido, a culpa não é nossa; se a Justiça achou (observação minha: Justiça não acha, julga) o contrário, é porque se aliou aos nossos inimigos" ou ainda, que um deles teria sido "vitimado, de modo cruel, por setores reacionários que constituem parcelas do Judiciário e da Imprensa, e que não poderia ser condenado porque possui uma vida limpa" (!).
O paradoxo é que, a se considerar ser mesmo verdadeiro o fato de terem sido eles baluartes da luta e da vitória contra a ditadura e da construção da Democracia que se respira hoje no Brasil, e cuja expressão máxima do Estado de Direito é o Supremo Tribunal de Justiça, que é agora por eles classificado como equivocado e tendencioso ao condena-los. Isto demonstra, portanto, um autorreconhecimento que teriam sido já derrotados na causa original que alegam para justificar a injustiça. 
O próprio terceiro possível artífice, que já citei aqui, da vitória contra a ditadura da época, questionado agora sobre o mensalão disse (em fonte que ainda não pude confirmar) que "o povo não está preocupado com isso. Está querendo mais é saber se o Palmeiras vai cair e se o Haddad vai ganhar"
Será que estes "heróis" da Democracia teriam lutado para que, cinquenta anos após a revolução de 64, ouvíssemos de suas próprias bocas, conceitos deste tipo? Com certeza esta é mais uma autodeclaração de suas incompetências ou de seus duvidosos objetivos, já de há mais de meio século.                         

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